quarta-feira, 14 de abril de 2010

Tarde Normal

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Era só mais um final de tarde abafado.
Ao menos era o que parecia. Por aqui, o ano inteiro é calor.
Às vezes isso não é tão agradável.
Ao menos não em um ônibus lotado, você atrsado,
E preso num engarrafamento que não acaba mais.
Mais enfim, parecia ser apenas mais uma tarde dessas.

E eu ali, naquele ônibus. Quantas pessoas abarrotadas ali dentro?
Sei que havia cerca de 40 sentadas, mais umas 25, talvez 35 em pé?
Sei lá. Seguramente mais de 60 pessoas.
Todas indo pra algum lugar. Vindo de algum lugar.
Deixando alguém pra trás. Um amigo, conhecido talvez.
Apenas um colega de trabalho, quem sabe até um encontro casual,
Na estação, com um amigão de infância, ou ex-namorada, a primeira namorada.

Havia uma senhora que me chamou a atenção.
Ela lembrava minha mãe. Um rosto de quem está de bem com a vida.
Um ar fresco. Que me inspirava positividade.
Reparei que era casada, devido a alliança.
Ela estava sentada do outro lado, lendo algo, que não consegui indentificar, na hora.
Sei lá porque, associei a algum livro barato de auto-ajuda.

Tinha um cara em pé, na minha frente.
Com uma mochila. Lendo algo.
Pela idade (por volta dos 25), devia está estudando algo da faculdade.
Um cara comum, jeito de quem trabalhou o dia todo.
Expressão cansada, suado.

Havia uma moça também, logo reparei nela, na verdade acho que todos repararam nela.
Era bonita, cabelos longos, lisos, morena, olhos bem escuros. Estava bem vestida também.
Não me recordo dos detalhes. Mas todos repararam nela, não por alguma qualidade,
Mas sim porque aparentemente ela brigava com o namorado, ao celular.
Falava alto. E a conversa demorou um bom tempo.
Ela estava logo a minha frente.

Claro, havia muito mais pessoas por perto. Mas esses, com certeza tinham alguém,
Que os esperava no final do dia, ou no outro dia, ou algum dia.

A senhora que lembrava minha mãe, devia ser mãe de alguém.
E se fosse tão boa mãe, como a minha, o filho a amava demais.
E além do mais, era casada. No mínimo um marido a sua espera.

O rapaz estudando, devia ter ao menos amigos na faculdade.
Naturalmente um cara da idade dele possuia amigos.
Os pais, talvez.

A moça, certamente um namorado, os pais também.

Tudo aconteceu tão rápido.

Algo exlodiu do meu lado esquerdo.
Não deu pra saber o que foi.
Lembro de muita luz, intensa. Um barulho crescente, um zunido, e silêncio.
Tudo isso numa fração de segundos.
Foi rápido.

Vi a luz envolvendo todos. Inclusive a mim.
E com tanta luz, não dava mais pra vê.
Tudo era luz. Luz e zunido. E depois, silêncio.
Não lembro de ter havido dor.
Lembro de vagos gritos. Não sei se eu gritei.
Ficou tudo embaralhado na memória.
Luz, gritos e barulho, luz, mais luz, zunido.
Pessoas caindo, eu acho que também cai.
Não sei quantos de fato morreram.
Quantos sairam feridos.

Não sei também se a mulher que lembrava minha mãe,encontrará seu filho,
Ou marido outra vez.
Nem se o rapaz fará a atividade para qual estava estudando,
Ou se sentirá novamente o abraço dos que o amam.
Muito menos se a mocinha teve tempo de fazer as pazes com o namorado,
Ou se poderá chorar no colo de sua mãe.

Sei apenas que, naquela aparente tarde normal, abafada, que eu estava atrasado, num ônibus lotado. Não foi apenas mais um final de tarde.
Sei também, que não haverá abraços apertados em meus pais, Beijos para selar as pazes com minha namorada, Nem nota dez na prova que estava estudando.Não mais, não depois daquela tarde.

Não para mim.

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2 comentários:

Lorena disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lorena disse...

Te amo.