sexta-feira, 30 de abril de 2010

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Pensei acerca de como contar essa história, verídica, para meus acidentais leitores. O tradicional “era uma vez” não satisfaz. Então, serei direto. Trata-se de uma formiga, pobre coitada, trabalhava noite e dia, como não podia deixar de ser. Enclausurada no formigueiro, lá embaixo. Tudo era escuridão, e a formiguinha era um tristeza de dá dor. Sonhava em ganhar o mundo, sair daquele buraco e conhecer a superfície. Desbravar tudo que pudesse.

De repente, depois de uma noite de trabalho duro (mais uma), ela começou a sentir um desconforto nas costas (ou pelo menos o que equivalente as costas humanas). Ela suspeitou que fosse apenas mais uma dor normal. Não era. Eram asas. E as asas cresceram. E ela pode voar. E voou. Saiu do formigueiro. Começou a conhecer o mundo, timidamente.

E, em um dos seus passeios, ela se deparou com um lindo vaga-lume. Como a pobre formiguinha não estava acostumada com a Luz, ficou deslumbrada. Foi o ser mais lindo que ela já viu. Se aproximou, conversou com ele, se apaixonou. Perdidamente. Tudo tinha mais cor quando estava perto do vaga-lume. Tudo tinha mais brilho. Tudo era mais vibrante, mais vivo.

Enfim o mundo fez sentido pra nossa formiguinha. Ela acompanhava o belo vaga-lume para todos os lugares. E ela era feliz assim. Mas o vaga-lume, tal qual emanava luz, tinha também seus momentos de escuridão. E, sem aviso prévio, ele se apagou. Mergulhou rapidamente em um buraco, frio, inóspito, e como nossa amiguinha não titubeava em acompanhá-lo, mergulhou também.

Acontece que, o vaga-lume , como já havia entrado e saído várias vezes desse buraco, já não se perdia mais pelos seus caminhos, que mais pareciam um labirinto. Já a nossa desafortunada formiguinha, não. Ela o acompanhou, e se perdeu, em meio a tanta escuridão. Se deparou com um mundo mais escuro, mais triste, mais doloroso que o seu formigueiro. E não havia caminho que a levasse para fora.

A pobre formiguinha vagou, vagou e vagou. Mas não conseguiu sair. Primeiro ela tentava encontrar seu amado. Depois de muito tempo e muitos fracassos, ela tentou apenas encontrar a Luz. Ao invés da Luz, ela encontrou ela mesma, tudo refletia um lado dela, que não conhecia. Seus defeitos, seus vícios, seu lado mesquinho, egoísta, maligno. Não fazia idéia que era assim. Que possuía tais características. E, reconhecendo seus defeitos encontrou um caminho novo.

Enfim, após muito pelejar e sofrer sozinha, nossa querida formiguinha achou a saída. Mas o vaga-lume não estava mais lá. Ou melhor, estava, mas estava com uma deslumbrante vaga-lume como um belo casal apaixonado.

Nossa formiguinha, que quis sair do formigueiro, conhecer o mundo, encontrar sua felicidade... Fez tudo isso, mais além do que esperava, encontrou a desilusão, a frustração. E acabou aprendendo com a dor, que o segredo é a temperança, a cautela, ou seja, ir com calma, devagar. Bem devagar.

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Um comentário:

Lorena disse...

Devagar...
(mesmo que tudo pareça um milagre, de tão grandioso. Por mais surreal que possa ser)
... e sempre.

Te amo.