quarta-feira, 28 de abril de 2010

O Rapaz e o Rio.

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Havia um rapaz. Um bom rapaz. Mas que andava meio perturbado consigo mesmo. Constantes conflitos. Dúvidas. O que assolava esse rapaz? O fato de ter se deparado com uma dura realidade, a qual ele se recusava a aceitar. Contudo, como disse, era real. Ele via, ouvia, todos os dias. De todas as partes. Mas se recusava a aceitar.

Ele recusava veementemente que as pessoas fossem ignorantes. Ele pensava que na primeira oportunidade de transcender a ignorância, todos agarrariam tal oportunidade. Porém, ele começou a confirmar justamente o contrário. Diante da oportunidade de superar a ignorância, as pessoas preferiam justamente o contrário, se agarravam a ela, se apegavam a ela, como se ela fosse um ente querido. Parte mesmo de sua família, ou personalidade.

E, ele se espantou de tal forma, se chocou tanto, que negou a realidade. “Essa idéia é inconcebível!” dizia o pobre rapaz. Estava decidido a manter seu ponto de vista. Sua filosofia. “As pessoas só são ignorantes, com relação a determinado assunto, até o dia em que encontram uma oportunidade para superar essa limitação.” E assim seguiu. Feito alguém, que se atira num Rio acima, contra uma forte correnteza, que traz com ela grandes pedras e troncos de árvores. E estes, por sua vez, vão castigando, machucando, dilacerando, cortando, afundando, a cada encontro o corpo desse corajoso que enfrenta o Rio. Todavia, ele cedeu.

Bem como nosso estimado rapaz. Ele também cedeu. Quando as pedras e os troncos são esporádicos, é possível resistir. Mas, quando elas castigam incessantemente o corpo, a desistência é só uma questão de tempo. Nosso rapaz se viu, incessantemente cercado por repetidas demonstrações de ignorância. E passou a considerar fatores que antes não considerava. As pessoas ora tem preguiça, ora são orgulhosas demais para admitir que estavam erradas, ora não querem admitir, por questão de crença. Por vezes, o conhecimento que possuímos, concluiu o rapaz, passa a integrar quem somos, e assim sendo, torna-se oneroso demais abrir mão disso. É como assumir que aquilo que achávamos que éramos, era um erro. Não, não há problemas em admitir isso. Mas nem todos conseguem.

E o rapaz agora, mudou suas perspectivas. Ele não pensa mais em enfrentar a correnteza. Tão pouco em segui-la cegamente, apenas por temer as pedras e troncos. Ele entendeu, o que é óbvio, as vezes precisamos retroceder alguns passos, para conseguimos grandes avanços. Ele recuará quando se tornar insuportável a dor, contudo, apenas para continuar avançando.

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