quarta-feira, 28 de abril de 2010

é normal?

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Aquele homem não tinha olho.
O direito, pra ser mais preciso.
Desconfortante.
O buraco vazio, que em algum momento do passado, possuía um olho.
Sem prótese.
Apenas um buraco vazio.
Vazio não.
Com pele flácida, e algo que associei aoque restou do nervo óptico.

Tentava não olhar para aquele não-olho.
Não conseguia.
Temia ser notado...
Suspeito que fui.
Indiscrição.
Um misto de agonia e curiosidade.
Não gostava nem um pouco do que via.
Ainda assim buscava vê.

Comecei a especular qual a causa de tal deformidade.
Acidente, provavelmente.
Porém, não notei nenhuma cicatriz em volta do olho.
De nascença?
Achei pouco provável.
Doença. Certeza.

E quão doente é o mundo hoje.
Quão doente somos nós.
Sofremos hoje, da pior doença que já se viu,em toda a história da humanidade.
Somos 'normopatas'. Não conseguimos sentir pena de um mendigo,afinal,
'é normal'.
Nem de pessoas sofrendo,
'é normal'.
Incapazes de nos sensibilizarmos.
Salvo exceções irrelevantes.
Vivemos sob a síndrome do 'isso é normal'.
Como se se repetíssimos esse mantra, fosse melhorar, ou ao menos mudar algo.

E tal qual olhei pra'quele buraco vazia,
Que um dia foi olho.
E não senti pena, nem compaixão, apaneas curiosidade.
É a maioria da humanidade, apenas curiosa com as causas.

Mas tudo continua na base do: 'é normal'.
O velho faminto que dorme sob a chuva.
A mãe desempregada, solteira, que chora a morte do seu filhinho, por inaninção.
'é normal'.

O pai que perde o filho no trânsito.
O filho que perde o pai pra violência.
'é normal', também.
E assim caminhamos.
Uma sociedade de absurdos, onde o maior de todos,
É achar que tudo 'é normal'.

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