terça-feira, 13 de abril de 2010

Por aí

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Outro dia, andava por aí, meio que sem prestar atenção em nada, mas olhava pra tudo.
Nenhum gesto me escapava, e ao mesmo tempo, não me prendia a nenhum deles.
Tudo era fugaz. Tudo era nada. Apenas devaneio, talvez.

Cada passo, cada respiração, cada carícia, cada movimento de lábios, ao pronunciar palavras perdidas ao vento. Perdidas sim, pois para mim, nada diziam, estava muito mais compenetrado na música que invadia meus ouvidos.

Sim pois, faço parte da geração headphones. Enfim, e nesse momento de 'observação distraída', comecei a divagar, bem devagar. Parava aqui e acolá, em cada pensamento novo, cada idéia exótica, atípica...
E percebi o quão incrível é nossa mente, como conseguimos pensar tanta besteira. Sonhar com tantas coisas em tão pouco tempo. Em frações de segundo, viajamos do céu ao inferno.

E eu viajei. Não cheguei a lugar algum, é verdade. Mas viajei mesmo assim.
E nessa viagem, estacionei num ponto incômodo. Mas que antes não era. A Solidão.

O estar só. Ficar só. E o pior, o Ser Só.

Percebi também, que não sou nenhum dos outros, não “estou” só e não “fiquei” só.

Eu “sou” só. Solitário, Sozinho.

Ainda que em meio a uma multidão. Sou só. Ainda que na presença dos meus melhores amigos. Sou só.
Ainda que ao lado da mulher que amo.
Sou só.

Estou fadado a isso. Sou, de fato, assim. Faz parte da minha constituição. Do meu íntimo. Um ser introspectivo. Ser que criou o seu mundo, do lado de dentro dessa carcaça que o reveste, ou melhor, dentro desse mundo infinito, o qual chamamos vulgarmente de Cérebro.

Vivo duas vidas, hoje tenho certeza disso. E não sei em qual das duas sou mais “Eu”.
Certamente fico mais a vontade no meu mundo interior. Certamente sou mais feliz no exterior.

Dois Eus. Dois de mim.

Não que seja uma batalha, um contradição. Nada de dialético.
Um e outro coexistem.
Mas esse que vos fala, hora é o do mundo exterior, hora o do mundo interior.
E, nesses momentos de devaneio, em que observo tudo, e não presto atenção em nada, em que simplesmente deixo vagar meus olhos por tudo que não tem importância, que consigo abarcar cada detalhe irrisório.

Sim, são nesses momentos, de fusão exterior e interior, que me reconheço mais. Sim, de fato agora percebo. Não sou mais nem um, nem o outro. Sou o dois, como não poderia deixar de ser.

Se sou feliz assim, se quero continuar assim, se meu exílio interno me agrada, se o mundo externo me é necessário???

Nada disso sei, e pouco me importa sabê-lo.
Só sei que, por hora, continuarei assim.
Vagando, dislexo, desatento, desapegado, sem pressa de chegar, sem saber pra onde ir... Apenas seguirei vagando.. Vagando... Vagando por aí...

Com meus headphones.

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